terça-feira, 8 de novembro de 2011

Tempos melhores para investir no Brasil

Matéria publicada no The Wall Street Journal

Antes fortemente aquecida, a economia brasileira esfriou este ano, mas o cenário de longo prazo continua incandescente. 

O investimento estrangeiro no Brasil pode chegar a US$ 60 bilhões este ano, quase o triplo do valor de dez anos atrás. A maior parte desse dinheiro é investimento estrangeiro direto, mas uma fatia tem fluído para os mercados financeiros, onde há várias oportunidades. 

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Bloomberg News - Trabalhadores numa plataforma da Petrobras no campo Marlim Sul. 
Peso da estatal na Bovespa pode dar impressão errada sobre a economia do país. 

Alguns mais otimistas com o Brasil têm comprado dívida de empresas locais, que rendem entre 6% e 10%, ante 3% dos títulos soberanos do país. "Os títulos [de dívida corporativa] ainda são atraentes", diz Michael Conelius, administrador de carteira do T. Rowe Price Emerging Markets Bond Fund. "Quando se leva em conta todos os fatores, o Brasil ainda é a melhor oportunidade de investimento no nível empresarial. A qualidade da administração, os balanços sólidos, os recursos naturais e a demografia positiva são os melhores dos mercados emergentes." 

As ações podem oferecer um retorno ainda mais atraente, diante de seu declínio este ano e dos valores ainda modestos. "Passei de aplicar pouco a aplicar muito no Brasil", diz Antoine van Agtmael, que administra US$ 8,3 bilhões como presidente do conselho e co-diretor de investimento da Ashmore EMM. Foi Agtmael que criou o termo "mercados emergentes". 

Como o real está valendo cerca de US$ 1,75, ante US$ 1,89 um mês atrás, o câmbio está "mais realista", diz Van Agtmael. 

A maneira mais direta de aumentar a exposição ao Brasil é comprar ações e títulos de dívida locais, mas isso pode ser caro, já que o governo começou a taxar as aplicações em ambos. Mas as ações na Bovespa da Restoque Comércio e Confecções de Roupas SA, uma grife de roupas femininas sofisticadas, e da Companhia Hering SA, dona da segunda maior varejista do país, são apostas atraentes na expansão do consumo interno. 

A Hering é a favorita de Lewis Kaufman, que comprou ano passado ações da empresa para seu fundo Thornburg Developing World. A ação já subiu 33% em reais. Kaufman, cuja firma administra cerca de US$ 8 bilhões em ativos de mercados emergentes em sua carteira internacional, diz que ainda a acha atraente, mesmo com a cotação igual a 16 vezes o lucro previsto por ação para o ano que vem. 

Os ADRs são uma maneira mais fácil de aplicar no Brasil e em muitos mercados emergentes. Entre os principais ADRs brasileiros estão os da Petróleo Brasileiro SA, da Vale SA e da Cia. de Bebidas das Américas, ou AmBev, que lidera o mercado de cervejas com as marcas Antarctica, Brahma e Skol. A Petrobras e a Vale são as ações mais valorizadas da Bovespa e já caíram mais de 20% este ano, em meio a um recuo mundial nas aplicações em commodities. E o rumo tomado pela dupla também é o rumo do índice do mercado brasileiro, o que leva alguns analistas a notar que o desempenho da Bovespa, dominada por ações de empresas de commodities, é um indicativo parcial da saúde da economia brasileira. 

A Barron's previu no fim do ano passado que o crescimento acelerado na China aumentaria o ADR da Vale de US$ 32 para US$ 40. Mas a ação caiu para US$ 25,74 e está oscilando agora em meras seis vezes o lucro previsto por ação. A Vale tem fortes chances de se beneficiar da onda atual de obras de infraestrutura no Brasil. 

Paul Atwood, gerente do Huntington Global Select Markets Fund, está usando a AmBev para apostar no crescimento do consumo. O ADR da empresa já subiu 17% no último ano, para US$ 34. Ele espera que o papel da empresa, hoje negociado a 15 vezes o lucro por ação previsto para 2012, suba para US$ 40 ano que vem. 

Estrangeiros que buscam ampla exposição a ações brasileiras podem escolher entre uma variedade de fundos negociados em bolsa baratos, os chamados ETFs. A Morningstar tem nove ETFs não alavancados focados no Brasil, com o maior de todos sendo o iShares MSCI Brazil Index Fund, que tem US$ 10 bilhões investidos. Ele acompanha o Índice MSCI Brazil: sua maior aposta é na Petrobrás, na Vale e no Itaú Unibanco Holding SA, segundo maior banco do país em ativos. O ETF está em queda de 19% este ano. 

O analista Gregg Wolper, da Morningstar, gosta do fundo BlackRock Latin America, que tem cerca de 70% dos seus US$ 754 milhões aplicados no Brasil. O fundo tem um histórico extenso e administradores experientes, diz ele. Criado há 20 anos, o fundo está em queda de 18% este ano, mas rendeu 23% nos últimos dez anos, melhor que 90% dos ETFs. Sua maior aplicação é na Vale. 

Investidores que buscam exposição a empresas menores e voltadas ao consumo têm que procurar além da Bovespa, com suas empresas de commodities com alto valor de mercado. O Dreyfus Brazil Equity Fund é uma opção; suas duas principais aplicações são na Ultrapar Participações SA, a dona das marcas Texaco e Ipiranga no país, uma empresa diversificada que atua em distribuição de combustível, química e logística, e no Itaú, embora seu foco principal seja em ações de empresas com valor de mercado mediano. O fundo está em queda de 12% este ano, mas isso ainda é melhor que 80% dos ETFs, segundo a Morningstar. A desvantagem é a proporção de 2% do total investido em despesas, relativamente alta. 

O Market Vectors Brazil Small-Cap também se encaixa nesse modelo. O ETF está em queda de 22% em relação a um ano antes, mas Kaufman acha que uma de suas aplicações, na Drogasil SA, cuja rede de farmácias é uma das maiores do país, deve se beneficiar da consolidação e do ambiente de concorrência mais racional no segmento brasileiro de farmácias. 

O EGShares Brazil Infrastrucutre, um ETF que aplica em infraestrutura, foi criado em fevereiro de 2010. Ele está em queda de 10% este ano e tem ações de cerca de 30 empresas, como a Vale, que podem ter um papel importante no boom da construção no Brasil. 

Não há nenhum fundo de títulos especificamente voltado para o Brasil, mas a Morningstar dá três estrelas para o T. Rowe Price Emerging Markets, administrado por Michael Conelius, por sua diversificação e baixo risco. Seu desempenho tem sido relativamente moderado, mas a proporção de custo é de apenas 0,95% e Conelius está no comando do ETF desde sua criação, em 1994. Ele investiu 16% dos ativos do fundo no Brasil, em títulos de empresas como a BR Malls, a maior operadora de shoppings da América Latina, e General Shopping Brasil, uma importante incorporadora de shoppings. 

O Brasil tem desafios reais que não podem ser contornados facilmente. O país tem uma das maiores cargas tributárias sobre empresas entre os países emergentes, de 34% do lucro. O Citigroup nota que a desaceleração recente na produção industrial pode levar o banco a reduzir sua previsão de crescimento do PIB de 3,3% este ano. Mesmo os mais entusiasmados admitem que um colapso na Europa, que enfrenta a crise da dívida soberana da Grécia, prejudicaria tanto os países riscos quanto os mercados emergentes. 

Alguns investidores, como Rich Bernstein, do Eaton Vance Richard Bernstein Equity Fund, acham que o Brasil e outros mercados emergentes estão às voltas com uma nova bolha de crédito, que começou a estourar. "O Banco Central do Brasil se rendeu [à redução dos juros]", diz Bernstein, que administra mais de US$ 650 milhões. 

Mas Lupin Rahman, administradora de fundos da Pimco, maior firma de renda fixa do mundo, defende os banqueiros centrais. "A inflação não será um grande problema para a economia brasileira", diz ela. "Em vez disso, será importante propiciar um pouso suave para a economia real no cenário mundial atual, mais volátil." 

Os próprios brasileiros não parecem se preocupar muito com o curto prazo, em parte porque o desemprego de 6% continua em queda e está impulsionando os salários. "O brasileiro médio está muito otimista", diz Alan Vinson, que dirige a Brazil Business Solutions, uma consultoria da Flórida, e visita o Brasil uma vez por mês 

A grande aposta é que a maioria dos brasileiros continuará assim. 


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