sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Cobrar dívidas ruins se torna bom negócio no Brasil

Por ROGERIO JELMAYER, de São Paulo
Matéria publicada no The Wall Street Journal

"Boas Festas e Feliz 2012!", diz um cartão de Natal que, sem dúvida, vai levar aos que o receberem mais alívio que alegria.

"Para você que mudou o rumo de sua vida e conseguiu acertar velhas pendências, desejamos um 2012 repleto de conquistas, sucesso e tranquilidade financeira", escreve a Recovery do Brasil, empresa de cobrança de dívidas, em um e-mail aos clientes que quitaram suas dívidas. 
                                                                                                                                     
Os bancos brasileiros têm emprestado muito nos últimos anos, e esse boom traz muitas novas oportunidades para a cobrança de dívidas, atividade que pela primeira vez começa a tornar-se um grande negócio no Brasil. 

Pode-se dizer que o aumento da cobrança de dívidas é o preço do crescimento. Depois de anos de instabilidade econômica e hiperinflação, o volume de crédito no Brasil quase dobrou nos últimos dez anos, e agora corresponde a quase 50% do PIB. O total de empréstimos atingiu R$ 2 trilhões em novembro, segundo o Banco Central. E 5,6% desse total, ou cerca de R$ 112 bilhões, tinham mais de 90 dias de atraso. 

O rápido crescimento vem trazendo algumas preocupações de que possa haver uma bolha de crédito no Brasil, especialmente nos empréstimos a pessoas físicas, onde a taxa de inadimplência é muito maior do que para empréstimos empresariais. A inadimplência para pessoas físicas subiu para 7,3% em novembro, enquanto para as empresas o índice foi de 4%. 

Mesmo sem superaquecimento, são abundantes as oportunidades para as empresas de cobrança de empréstimos vencidos. 

Salvatore Milanese, sócio da firma de auditoria e contabilidade KPMG, disse que o crescimento dos empréstimos no Brasil "não é preocupante agora, mas a taxa de inadimplência está se deteriorando em algumas áreas, principalmente a das pessoas físicas". 

Segundo a KPMG, o total das dívidas em atraso no Brasil pode alcançar R$ 330 bilhões; desse total, os bancos já disseram que não vão recuperar cerca de R$ 180 bilhões, tornando essa quantia potencialmente disponível para ser vendida aos cobradores de dívidas. 

O Banco Santander Brasil S.A. vendeu cerca de R$ 16 bilhões em créditos inadimplentes em 2011, quase quatro vezes a quantia vendida em 2010. Esses empréstimos, equivalentes a cerca de 9% do total de empréstimos do Santander Brasil, são a pior parte da sua carteira – aqueles que não receberam nenhum pagamento por mais de um ano. 

Segundo comunicado enviado à agência Dow Jones, o Santander informou que "as condições atuais do mercado explicam a aceleração da venda de suas carteiras [de créditos inadimplentes], resultando em maior eficiência". 

Os bancos costumavam vender carteiras de créditos com mais de cinco anos de atraso, mas com o crescimento do mercado de cobrança de dívidas, estão começando a vender carteiras mais recentes. 

"Agora é possível comprar carteiras de empréstimos que têm três anos de atraso", disse Bruno Bossi, um executivo da Palato Velum Credit Management, firma brasileira especializada em recuperação de créditos inadimplentes. 

A Velum, fundada em janeiro de 2009, comprou mais de R$ 3 bilhões em carteiras de crédito inadimplentes até agora, segundo o site da empresa. "A tendência é que esse segmento continue a se expandir em um ritmo semelhante ao dos empréstimos no Brasil", disse Bossi. 

Segundo Milanese, da KPMG, os bancos vendem os créditos inadimplentes por cerca de 1% a 6% do valor de face. As empresas de cobrança de dívidas podem ganhar até cinco vezes seu investimento dentro de dois ou três anos, muitas vezes recebendo muito menos que o montante total do empréstimo. 

Os princípios econômicos desse boom da cobrança de dívidas também são atraentes para os devedores, que muitas vezes estão ansiosos para retirar seu nome das listas negras compiladas pelas firmas brasileiras de proteção ao crédito. 

Um professor de São Paulo devia R$ 500 reais, incluindo capital e juros vencidos, e acabou pagando menos da metade desse valor. "Paguei para tirar meu nome dos arquivos do serviço de proteção ao crédito", disse o professor. 

Por enquanto, os bancos internacionais como Santander Brasil têm sido os mais inclinados a vender suas carteiras de créditos inadimplentes, segundo a KPMG. Os bancos brasileiros, que têm redes maiores, preferem cobrar suas dívidas por conta própria. 

"Essa é uma decisão estratégica tomada por cada banco", disse Antonio Bornia, vice-presidente do terceiro maior banco do país, o Bradesco. "Nós preferimos fazer a recuperação de empréstimos inadimplentes usando a nossa própria estrutura, enquanto outros bancos preferem terceirizá-la."

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Tags: cobrança-dívidas-Brasil, inadimplência-pessoa-física, empresas, compra-venda-dívidas

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